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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Skyline Pigeon

Zulmira Carvalheiro

              Há algumas coisas nesta vida que não entendo.
Vivo aqui nesta casa desde sempre, todos me tratam bem, me trazem brinquedos, brincam comigo e contam histórias. Mas sou proibida de passear sozinha. Há sempre alguém segurando a minha mão quando estamos lá fora. Não posso nem correr atrás das pombinhas, nem subir em árvores, nem nada. Apanhar flores e catar pedrinhas com as duas mãos também é impossível.
Uma noite, quando todos estavam dormindo, tentei sair por uma das janelas. Então percebi: todas têm grades de ferro.
Uma única vez fomos até o limite do jardim, isso depois de eu pedir muito. Só concordaram quando perceberam lágrimas nos meus olhos. Fiquei admirada com a altura do muro. "Para que um muro tão alto?" perguntei. Nenhuma resposta.
Há algum tempo comecei a ter vontade de sair daqui. Eles afirmam que nada existe para além do jardim, mas acho difícil acreditar.
Hoje tentei largar a mão do meu acompanhante. Ele percebeu na hora e segurou mais forte ainda, chegou a doer. Voltamos logo para dentro.
Quando eu era mais jovem não pensava nessas coisas, porém agora vivo atormentada por dúvidas e curiosidades que nunca são esclarecidas.
              Meu desejo é voar para longe daqui. Se pudesse iria agora mesmo. Isso me lembra um dos grandes mistérios que me cercam: por que as outras pessoas não têm asas?

Um comentário:

  1. Oi Zulmira, gostei muito do seu texto, ele tem uma construção legal, instigante. Acho que ele nem precisaria ser tão curto, você poderia desenvolver mais esse personagem (que é bem interessante), dar mais piistas, etc.
    Beijos!

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